APRENDENDO A DIRIGIR NA BARCA
Aprendí a dirigir no Aero Willys 1961 na cor branco gelo, do meu pai. Tinha cerca de 12 anos quando o dirigí pela primeira vez. O velho Aero tinha o apelido – A Barca - depois hispanizado para – La Barca, pois realmente era uma banheirona desengonçada. E eu era tão pequeno quando comecei a dirigi-lo, que olhava o mundo pelo espaço entre o volante e o painel, ou seja, o topo da minha cabeça estava menos de 5cm acima do volante.
O volante extremamente pesado, os freios a tambor sem hidrovácuo que quase não paravam os mais de mil e quinhentos quilos do carro, a visibilidade reduzida e a primeira não sincronizada (só podia botar a primeira com o carro parado ou então – crrrrrrrrrrrrrrrrrr) tudo isto tornava sua pilotagem bastante difícil. Além disto, não possuia retrovisor externo e sua buzina constantemente estava quebrada. Não tinha cinto de segurança e o limpador de parabrisas, que funcionava a vácuo, era extremamente lento.
Mas, aos poucos, fui ganhando confiança, e um ano depois, já saia para a rua sozinho. Para manobrar na garagem, ainda precisava de ajuda com o volante, pois sozinho não tinha forças de gira-lo com o carro parado.
E assim, fui fazendo pequenos mandados de minha mãe, levando meu pai no trabalho, até que um dia, eu tinha menos de 15 anos, fui para o colégio Marista dirigindo o carro. Cheguei lá com o peito cheio de orgulho, para mostrar para meus colegas que eu era “o bom”. Em vez disto, fizeram a maior gozação, porque La Barca já tinha uns dez de anos de uso, era realmente uma lebreca velha. Diziam que o ratinho que acionava o limpador de parabrisas era muito lerdo, que o chiclete que segurava as portas estava velho e que eu não deveria passar por cima de um cigarro aceso para não furar os pneus.
Por outro lado, La Barca tinha suas qualidades. Uma vez descí a Av. Contorno com o carro cheio de gente, só tinha adolescente, se somasse a idade de todo mundo acho que não dava nem 30 anos. Quando cheguei na Calçada, estacionei junto da fábrica de refrigerante de laranja – Crush e subí o meio-fio. Nesta hora, o volante simplesmente soltou na minha mão, pois a barra de direção havia quebrado. Ela poderia ter quebrado na Contorno ou em qualquer lugar que causasse um acidente, mas não, quebrou somente quando estava em segurança, manobrando.
Outra vez o carro começou a fazer uns ruídos estranhos na suspensão traseira e um motorista amigo de meu pai olhou e disse que a mola mestra do lado esquerdo havia quebrado e que deveria fazer o conserto imediatamente pois o eixo traseiro poderia se soltar a qualquer momento. No outro dia de manhã levei o carro para a fábrica de molas na Calçada e quando subí o passeio, entrando na oficina, o carro quebrou a outra mola mestra, arriando completamente a traseira, só que já estava dentro da fábrica de molas. Ele podia ter quebrado em qualquer lugar, o que ocorreria a soltura do eixo traseiro, mas não, deixou para quebrar quando estava no local do conserto.
Em outra ocasião, o carro furou o pneu traseiro esquerdo. Fui trocá-lo e para tanto peguei o macaco, que era um monstrengo enorme, quase um guindaste, com uma sapata de ferro 20x20cm embaixo, uma haste dentada com quase 1,0m e uma peça com um gancho que fazia a elevação. Quando finalmente terminei de trocar o pneu, arriei o macaco, botei o macaco na mala e seguí meu caminho. Uns dez km adiante comecei a escutar um ruído – CLOC, CLOC, CLOC, vindo da roda que tinha acabado de trocar o pneu. Parei o carro e verifiquei que as porcas estavam todas folgadas, a ponto de soltar, pois eu tinha me esquecido de apertar as ditas porcas com a chave de rodas. Mais um pouco e eu ia ficar sem este acessório insignificante, que era a roda traseira esquerda. Mas, sempre gentil, La Barca me avisou antes de acontecer algo.
Assim era La Barca. Só deixava a gente na mão quando não corríamos riscos.
(Fonte/autor: Ulisses Britto Junior)
AS TURISTAS
Um vez saímos com umas turistas de uma cidade do interior de Minas, acho que era Guaxupé o nome da dita. Fizemos o tour costumeiro, passamos no Barcaça, Boa Viagem, Bonfim e quando já íamos subindo pra cidade alta, reparamos que lá nas docas, branco e imenso, estava um navio transatlântico todo iluminado, encostado no 1º armazém.
Resolvemos parar e ver o navio de perto. Subimos uma escada que dava para uma varanda do lado do armazém e ficamos lá olhando o navio. Uma das meninas que tinha se atrasado lá no carro, e que, no mínimo nunca tinha visto o mar e muito menos um navio daquele tamanho, ao se deparar com aquela visão fantástica, disparou:
- Ô trem grande danado que boia!!! (A gente rolou no chão de rir).
(Fonte/autor: Ulisses Britto Junior)
O TIO NAMORADOR
O tio de um amigo meu só ia namorar de terno. Todos os dias ele ia pra casa da namorada usando terno, variando de acordo com o dia.
Um dia ele foi com o terno de linho branco e a namorada elogiou:
- Poxa, voce fica tão bonito com este terno de linho branco!!
E ele:
- Então tá tudo acabado.
(porque nos outros dias ela deveria achar ele feio)
(Fonte/autor: Ulisses Britto Jr)
SEM LENÇO SEM DOCUMENTO
Um amigo engenheiro estava em Itabuna olhando uma obra da sua empresa.
Ele tinha ido de avião até Ilheus e dai o administrador foi busca-lo com o carro da obra (uma Saveiro).
De repente ele recebeu uma noticia qualquer e precisou voltar pra Salvador com urgencia.
Pegou o carro do Administrador e sentou a bota pela BR 101 a 140 por hora.
Quando foi descendo a ladeira da barragem de Pedra do Cavalo, lá no meio da curva ele topou com uma blitz da policia. O cara freiou prum lado, freiou pro outro, quase atropela uns 2 guardas mas conseguiu parar com segurança. Saltou do carro nervoso:
- Rebanho de incompetentes, como é que voces fazem uma blitz no meio da curva, eu podia ter morrido ou matado um de voces. Cambada de vababundo, sacanas (e porai vai os xingamentos). Ele estava realmente irritado.
O guarda na maior calma:
- Documentos.
Meu amigo entra no carro, procura a pasta e vê que tinha esquecido a mesma lááááá em Itabuna. Abriu o portaluvas e despenca um revolver lá de dentro. O documento do carro tambem não estavam no portaluvas e a carteira de motorista tinha ficado na pasta. Nem dinheiro ele tinha.
O guarda:
- Pra quem está todo errado o senhor tá muito brabo, muito arrogante. Em alta velocidade, ameaçando a vida de um policial, sem carteira, sem documentos do carro, portando uma arma ilegal, assim fica dificil.
Meu amigo botou a mão na cabeça e teve que se humilhar.
- Me desculpe, realmente, tô errado, não tenho como resolver isso agora.
Que situação...
(Fonte/autor: Ulisses Britto Junior)
O PRESIDENTE ROOSEVELT E A TRILHA
Pro Jipeiro, a trilha é TUDO. E o mais interessante é o espirito da trilha - quanto pior melhor.
Dizem que o Presidente Roosevelt era trilheiro tambem mas só que de "a pés". Saia com frequencia pelos matos acompanhados pelo séquito de puxa sacos, acessores e demais desocupados que estavam lá pra ficar perto da "pessoa real".
Numa desses passeios, o grupo ouviu estrondos e fumaça numa determinada direção. Era uma pedreira detonando rocha. E Roosevelt, com um sorriso:
- É pra lá que nós vamos!!
Isso resume todo o espirito da trilha.
(Fonte/autor: Ulisses Britto Junior)